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Ética no serviço funerário



Aristóteles já dizia que “a virtude moral é uma consequência do hábito. Nós nos tornamos o que fazemos repetidamente”. Complemento essa afirmativa dizendo que a busca pela ética implica em fazer com que tal hábito seja a repetição de atos adequados.

 

Mas como estabelecer o que é correto? Uma empresa oferecer um serviço ou produto melhor significa que tenha ética?

 

Sem dúvidas, não! Ética vai além. Ética implica em responsabilidade social, em transparência no exercício da atividade, em adotar posturas que afetem positivamente as pessoas envolvidas (sejam funcionários ou clientes). Implica em tomar decisões que observem o entorno, o momento, e o impacto da atividade, em especial a atividade funerária.

 

Ora, desempenhar um serviço funerário significa, via de regra, entrar na vida das pessoas em um momento de extrema vulnerabilidade. É quando somos lembrados da nossa finitude e da finitude de muito do que nos cerca. Ao perder um ente querido, nosso referencial é abalado. Então, como agir em um momento assim?

 

Parte significativa da premissa ética é que as famílias têm o direito de escolher livremente a Funerária que irão contratar. Plantões em instituições de saúde, "patrocínio" de funcionários de órgãos privados, e muitas vezes públicos, é um desrespeito ao momento sensível da morte. Conduta inadmissível aos firmes de caráter.

 

Outro detalhe importante é entender a realidade da sociedade em que a empresa está instalada. Isso é o básico para uma atuação responsável. Ser ético é ser transparente na atuação profissional, comunicar-se de forma aberta com o cliente e com os que colaboram com o serviço, mas sempre obedecendo uma certa razoabilidade. A maioria dos clientes não está habituada ao dia-a-dia do serviço funerário e é preciso reconhecer que não é salutar (e nem necessário) que essa realidade seja alterada de forma grosseira. Ou seja, a família contratante não precisa ser informada dos detalhes de cada procedimento funerário, salvo se expressamente manifestar a intenção de saber. No entanto, a informação de que existem vários tipos e materiais de urnas funerárias que influenciam diretamente no seu valor, é básica. Saber que a aquisição de urnas cinerárias (aquelas que servem para acondicionar cinzas depois da cremação) nem sempre são necessárias e que urnas de tamanho especial podem representar um acréscimo no valor do serviço, importa. É o que eu chamo de transparência com razoabilidade.




 

Outra consideração importante ao falar de transparência, com base na nossa experiência pessoal: durante muitos anos, a atuação da Funerária Braga foi norteada pelo tanto que conhecíamos os clientes e, em alguns casos, isso ainda é possível. Pressupor o tipo de urna e o serviço mais indicado para cada cliente, no entanto, pode não ser adequado. Existem muitos fatores que influenciam as escolhas no momento da morte, e nenhuma delas pode ser desconsiderada: a homenagem, a posição social, a projeção profissional e até, mesmo, a culpa ou alguma forma de retribuição. Não nos compete, enquanto prestadores de serviço, avaliar isso, mas, sim, esclarecer o que é necessário, o que é supérfluo, de forma clara. Isso é transparência.

 

No mais, para não correr o risco de assustar os meus vários amigos psicólogos, psiquiatras e outros capacitados a analisar a parte emocional do ser humano, vou me restringir apenas a dizer o seguinte: exercer essa atividade não é uma tarefa fácil! Não é uma tarefa que pode ser esquecida no “bater do ponto”.  É um trabalho que nos acompanha em todos os momentos, pois passa a nortear a nossa conduta com os filhos e os amigos; além de afetar a nossa forma de manifestar preocupação, a nossa maneira de festejar, de participar de uma festa, de ver e vivenciar a vida.  O que almejamos? “Chegar a tempo” para honrar a vida que as pessoas tiveram...se fizermos isso, estamos no caminho certo.


A vida é como uma moeda: você pode gastá-la de qualquer maneira que você quiser, mas você só gasta uma vez. Gilian Smith

Verusca Braga de Ávila, advogada, consultora e parecerista em Direito Público, sócia-proprietária da Funerária Braga Ltda.

Permitida a reprodução mediante citação da fonte: AVILA, Verusca. Ética no Serviço Funerário. Funerária Braga, 2024

Imagens meramente ilustrativas


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